Ilona Gurjanova

Assume a presidência da Associação Estoniana de Designers há quase 20 anos, é fundadora da Estonian Design House e principal organizadora do Festival de Design de Tallinn, que celebra este ano, entre os dias 29 de Setembro e 5 de Outubro de 2025, duas décadas de existência. O seu percurso profissional e o traquejo de trabalho permite-nos obter uma percepção clara sobre a cultura do design no seu país.

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Entrevista por Tiago Krusse
Fotografia de abertura de Dimitri Korobtsov

Ilona Grujanova, presidente da Associação Estoniana de Designers e fundadora da Estonian Design House. Fotografia de Olga Makina.

São vinte anos do Festival de Design de Tallin, um período marcado por dois momentos com grandes impactos: a pandemia e a guerra. Como é que descreveria e definiria todo este caminho e que tipo de mudanças e evoluções pode testemunhar?

A pandemia e a guerra são temas sérios mas, durante a COVID, encontrámos maneiras não apenas de manter o festival em andamento como também de realizar um formato de conferência parcialmente presencial. Graça aos espaços amplos, conseguimos garantir o distanciamento físico necessário. Em resposta à crise, escolhemos um tema e uma identidade visual adequados: Design para Necessidades.

Infelizmente, não se pode escolher o vizinho. Vivemos a vida inteira sob a sombra de ameaças e provocações de guerra. Mas não entramos em pânico — permanecemos realistas.

O núcleo da sua organização é composto por quem e como é o trabalho é desenvolvido? De forma independente ou com financiamento público?

O festival é organizado pela Associação Estoniana de Designers e pela organização sem fins lucrativos Disainiöö. Para realizar o evento, reunimos uma equipa dedicada de cerca de 20 pessoas por um período de 1 a 3 meses, enquanto a equipa principal de gestão trabalha pro bono. Todos os anos, solicitamos financiamento ao Fundo Cultural da Estónia e à Câmara Municipal de Tallinn.
Sempre tivemos como princípio manter a maioria dos eventos gratuitos, pois nossa missão é educar o público por meio do design. Uma fonte de renda vem do aluguer do espaço no Mercado de Design de Rua para designers, criadores e empresas.

Fotografia de Kaie Kill.

Onde reside a força dos vossos designers quando têm de lidar com os mercados interno e externo?

Recebemos provas claras de que nossa força reside no design circular. A Nossa exposição itinerante Upmade in Estonia, lançada em Nova Iorque, em 2024, levou mais de 20 marcas estonianas a serem vendidas em três locais diferentes na cidade. Embora o preço acessível não seja o principal atractivo, esses produtos destacam-se pela sua exclusividade, qualidade, edições limitadas, sustentabilidade e artesanato especializado. Na Estónia, a imagem do design local é altamente respeitada e temos orgulho de ter uma base de clientes fiéis na loja Estonian Design House.

Quando foi o início do movimento da cena de design local e quais conquistas foram feitas desde então em termos educacionais, profissionais e políticos?

Em 2000, a primeira exposição internacional do panorama do design estoniano foi realizada no Museu de Design de Helsinquia. Após esse marco, começámos a participar em feiras, bienais, exposições e lojas temporárias. Neste momento encontrado-nos em exposição em mais de 25 cidades pelo mundo. Também iniciámos os preparativos de uma política nacional de design em colaboração com o Ministério de Assuntos Económicos e Comunicações e os nossos parceiros dinamarqueses, incluindo o reputado Per Mollerup. O objectivo era estabelecer um centro de design que implementasse e promovesse a política nacional de design. Embora a iniciativa não tenha recebido financiamento específico, o centro foi fundado e, desde então, sediou inúmeras actividades baseadas em projectos, como o Prémio Estoniano de Design e o Festival de Design de Tallinn. O Centro Estoniano de Design não organiza o festival. Nós, a Associação Estoniana de Designers, fomos um dos fundadores do Centro de Design e de duas universidades.
Passo a passo, o ensino de design na Estónia evoluiu. As escolas de design começaram a alinhar-se às tendências de outros países, tornando-se uma disciplina independente e uma das escolhas mais populares entre os estudantes. Hoje, cinco instituições de ensino superior na Estónia oferecem programas de design. Cada vez mais, a atenção está centrada no design não material — incluindo design de serviços, design UX/UI e, mais recentemente, design social, reflectindo a crescente importância de abordagens sistémicas e centradas no ser humano no campo.

Como é organizado cada festival? Qual é a filosofia?

O festival é construído sobre quatro pilares: palestras e exposições que apresentam histórias de sucesso em design para especialistas e entusiastas; eventos que envolvem a comunidade; uma programação diversificada; e comércio de design. O Festival de Design de Tallinn recebeu o selo de qualidade EFFE da Associação Europeia de Festivais (EFA), reconhecendo sua importância e impacto cultural.
O festival valoriza fortemente o contexto e o local. A cada ano, procuramos novos locais que transmitam um senso de história e de autenticidade, espaços que enriquecem a experiência e reflectem o espírito do design. Desde seu lançamento em 2006, o Festival de Design de Tallinn tornou-se um grande evento internacional, reunindo criativos, empresas, educadores e comunidades para promover a inovação, a colaboração e o design que realmente importa. Para lá de exposições e palestras, o festival oferece uma mistura vibrante de eventos sociais, educacionais e de networking. É também um lugar para interagimos, um espaço onde as ideias se misturam, as parcerias são formadas e a criatividade prospera.

Fotografia de Kevin Loigu.

Certamente há um impacto na economia local? Como são as informações reunidas e quais pontos-chave essenciais para a organização?

Os criativos locais têm uma plataforma valiosa para exibir e vender seus trabalhos por meio das exposições com curadoria do festival e do Design Street Market. Essa visibilidade promove não apenas o intercâmbio cultural como também cria oportunidades económicas tangíveis. Graças à crescente conscientização sobre o potencial do design, o seu papel na inovação, sustentabilidade e soluções centradas no usuário, os designers locais estão a ser contratados em maior número por diversos sectores de actividade, desde os serviços públicos até às empresas privadas.
O impacto na economia local é real. Os designers contribuem para a criação de empregos, o crescimento de pequenas empresas e o potencial de exportação, especialmente em áreas como design circular, serviços digitais e produção artesanal. Os principais indicadores da organização incluem: – número de designers locais envolvidos e contratados – volume e diversidade das vendas de design – interesse internacional e colaborações subsequentes – interacção pública e alcance educacional – cobertura dos media, incluindo media social e de influência política.

A Associação Estoniana de Designers actua a que níveis?

A Associação Estoniana de Designers actua nos níveis local, nacional e estrangeiro. Contribui para a política cultural, colabora com o governo e instituições públicas e defende o design como ferramenta estratégica. A associação apoia o desenvolvimento profissional por meio de exposições, prémios e iniciativas educacionais. Também promove parcerias globais, participando em projectos da União Europeia e representando a Estónia em redes internacionais de design como BEDA, World Design Organization e Design For All. Por meio de eventos públicos como o Festival de Design de Tallinn, promove a cultura do design e o envolvimento comunitário.

Fotografia de Disainiöö MTÜ.

Como avalia o ensino de design no seu país? Aspectos positivos e negativos.

Infelizmente, há falta de bons professores porque muitos designers preferem o trabalho profissional ao ensino e à administração.

Os designers têm algum papel na formulação de políticas?

Os designers estonianos são parceiros activos do sector público, com o design firmemente inserido na política cultural nacional. A Equipa de Inovação trabalhou em estreita colaboração com instituições governamentais para desenvolver serviços públicos de fácil utilização, demonstrando o valor do design na construção de sistemas inclusivos e eficientes.

Fotografia de Kaie Kill.

Quais são os principais desafios que os designers enfrentam ao considerar as mudanças climáticas e as questões éticas e morais relacionadas à inteligência artificial?

Os designers devem ser educados nos princípios de reciclagem e upcycling, incentivados a evitar composições multimateriais e ensinados a pensar criticamente antes de criar novos objectos que possam prejudicar o planeta. A inteligência artificial pode auxiliar na implementação, mas não pode substituir o pensamento ou a tomada de decisões humanas.

Fotografia de Kevin Loigu.

Por qual motivo Tallinn não faz parte da rede de cidades de design da UNESCO?

A Estónia escolheu Tallinn para se juntar à Rede de Cidades Criativas da UNESCO como Cidade da Música — afinal, temos Arvo Pärt.

O que é bom design?

O bom design responde às necessidades reais, celebra a diversidade humana, evoca emoções por meio da função e respeita o meio-ambiente.

Mais informação em https://www.edl.ee/en , https://disainioo.ee/en e https://www.estoniandesignhouse.ee/en/