Adaptabilidade secular
O NÚMERO 68 DA AVENIDA 24 DE JULHO, EM LISBOA, É UM EDIFÍCIO QUE TEM REVELADO A SUA CAPACIDADE DE SE ADAPTAR E AO TORNAR-SE A SEDE DA EMPRESA EVOLUTION NO NOSSO PAÍS, NUM PROJECTO DE REFORMA DE INTERIORES PELA SAVILLS PORTUGAL, SUBLINHA A IDEIA QUE A ARQUITECTURA SERVE O HOMEM.  

O edifício, com uma área total de 1,238m2, sofreu uma profunda reformulação de interiores que teve como desígnio a sua adaptação às necessidades da Evolution e imagem da empresa, tornando-o o seu centro tecnológico na capital.

Projecto de arquitectura: Savills Portugal

Texto: Tiago Krusse

Fotografias: Cortesia da AEM press

O edifício no número 68 da Avenida 24 de Julho, em Lisboa, construído no ano da Grande Depressão -a crise financeira da economia dos Estados Unidos da América e que se propagou a outros países-, dá mostras da sua capacidade em se adaptar aos diferentes espíritos de épocas pelos quais tem passado. A sua dimensão e estrutura permitem-lhe transformar-se, no seu espaço interior, no decorrer do seu historial. No início do ano passado, revela mais uma substancial transformação, uma reforma de interiores que lhe dá mais um novo programa.


A Evolution, empresa especializada e líder mundial no desenvolvimento de programas informáticos para plataformas de jogo online, selecciona o 68 para a sua sede em Portugal, o seu centro tecnológico na capital. A escolha do nosso país vem no seguimento da sua estratégia de expansão assim com a procura de talentos nacionais no campo da engenharia.


A Savills Portugal é a empresa responsável pelo projecto de arquitectura cujas propostas visam as necessidades da Evolution para a sua sede em Lisboa. Com conteúdos bem definidos, a reforma de interiores deixa patente a imagem institucional da empresa e integra apontamentos alusivos à cultura portuguesa.

Memória descritiva da Savills Portugal

O Edifício

O icónico edifício, de carácter industrial, localizado na Avenida 24 de Julho 68, foi construído no início do século XX como garagem de exposição e venda de automóveis, sendo transformado em 2021 na nova sede da Evolution, pela Savills Portugal.
O edifício actual é fruto de um processo natural de sucessivas adaptações a novas funções que lhe foram sendo atribuídas ao logo do tempo, já que o seu uso genérico de serviços o permite. Assim, começou como garagem automóvel em 1929, passando a Instituto dos Cereais nos anos 70 e mais tarde, já em 2012, sofre uma alteração profunda para escritórios nos pisos superiores e restauração no piso 0.
Com uma área total de 1,238m2, é constituído por dois pisos, um sótão com aproveitamento das águas-furtadas e um terraço virado para o rio Tejo.

Conceito

O projecto tem como objectivo a reformulação dos interiores (Fit-out) para adaptação às necessidades da Evolution, preservando toda a imagem exterior de forma a valorizar a história do edifício nesta artéria principal da cidade de Lisboa.
Ainda sem comprometer a génese do edifício, pretendeu-se com a nova intervenção interior, transparecer para o exterior uma imagem de modernização tirando partido das grandes montras que incorporam a fachada.
Tendo em conta estas premissas, o projecto de arquitectura da Savills focou-se na reestruturação total do piso 0, que estava devoluto, e na adaptação dos pisos superiores de escritórios à nova imagem do cliente. Em termos de design interior, além da resposta ao programa, foi intenção do cliente implementar alguns detalhes da cultura portuguesa.

Proposta

Sendo um edifício constituído por 3 pisos e que necessita de recorrer à utilização de escadas, procurou-se distribuir o programa de forma equilibrada, garantindo que todos os seus ocupantes teriam um fácil acesso às zonas comuns e de apoio como copas, salas de reunião, phonebooths, etc…
O acesso ao escritório pode ser feito de duas formas: através da entrada principal, virada para a Avenida 24 de Julho, ou por uma porta secundária destinada exclusivamente a colaboradores.
No piso 0, além da recepção principal servida por duas salas de apoio para reuniões externas, encontra-se um auditório com capacidade para 30/40 pessoas, copa, cápsulas individuais e micro meetings, open space para 48 pessoas e conjunto de instalações sanitárias, incluindo de mobilidade condicionada.
O piso 1, inclui um open space para 76 pessoas, gabinete de recursos humanos/contabilidade, salas de reunião e copa.
Por último, no piso 2, além do open space para 13 pessoas, temos uma sala de reuniões, arrumos, sala de jogos, biblioteca e acesso a um terraço exterior, com vista para o rio.

Materialidade

No que respeita às materialidades utilizadas neste conceito, procurou-se realçar a linguagem industrial da arquitectura do edifício original, com alguns apontamentos de detalhe mais contemporâneos e algo provocadores.
Para o efeito, opta-se de uma forma geral por materialidades de tons neutros -preto, branco, cinzento- nos elementos arquitectónicos principais como pavimento, paredes opacas e caixilhos, atribuindo os tons cromáticos mais vibrantes aos elementos decorativos e espaços mais particulares como salas de reunião, phonebooths, cápsulas, murais artísticos, etc…
A intenção de criar momentos diferenciados e provocadores, prende-se com a ideia de oferecer um espaço de trabalho que transmita uma sensação de leveza e descontração, contrariando o formalismo por vezes criado no espaço laboral.
A inserção de elementos naturais, como madeira e plantas, pretende equilibrar o aspecto industrial frio, contribuindo para a sensação de conforto e a qualidade do ambiente.
Por fim, com o intuito de marcar a presença da Evolution em Portugal, a equipa projectista concebeu um painel de azulejos tradicionais portugueses que trabalha em conjunto com uma instalação policromática, permitindo ter uma vista dinâmica e experiência interactiva, que se reflecte para o exterior do edifício.



Piso 0
Piso 1
Piso 2