Estratégia e futuro

A Adico eleva a sua responsabilidade social ao obter a certificação do Sistema de Gestão Ambiental. A entrevista a Miguel Carvalho, administrador da empresa, dá-nos uma visão do nível em que se encontra a mais antiga fábrica de mobiliário portuguesa e como ela está a diversificar a sua oferta, investindo em novas colecções e alargando a sua base logística. Há novos desafios e objectivos com o propósito de consolidar e aumentar a presença que tem no mercado nacional e no estrangeiro.

Entrevista de Tiago Krusse

Fotografias: Cortesia da Adico

A Cadeira Portuguesa

A Adico obteve a certificação do seu Sistema de Gestão Ambiental. Que processo é que a empresa encetou para atingir este objetivo?

A obtenção da certificação do Sistema de Gestão Ambiental ISO 14001 envolveu diversos passos que passam desde logo pelo envolvimento dos responsáveis da Adico, que devem liderar todo o processo e fornecer os recursos necessários para a boa execução do mesmo. Para que a Adico conquistasse esta certificação foi necessário construir um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em conformidade com os requisitos da norma, que contempla diversas fases de implementação e que passam pela realização de um diagnóstico inicial para avaliar a situação da empresa, com a consequente elaboração de um plano de acção com o objetivo de corrigir eventuais situações detetadas. Posteriormente procedemos à identificação e à avaliação de todos os aspectos significativos para o processo, seguido da construção de uma matriz que identificasse as obrigações legais em matéria de ambiente. O passo seguinte passou pela definição de metodologias de avaliação da conformidade legal no plano ambiental, com o consequente desenvolvimento e implementação do plano de trabalho, seguido de uma auditoria interna com elaboração de propostas de eventuais acções correctivas e finalmente a auditoria de certificação que nos permitiu conquistar o selo ISO 14001. É importante notar que a implementação do SGA, e a obtenção desta certificação são processos contínuos que exigem um comprometimento a longo prazo da organização e dos seus líderes.

Quem ou o que despoletou esta acção pelo ambiente e que fatores levaram a empresa a realizar que precisava de cumprir esta estratégia?

Esta acção foi despoletada pela direcção da empresa que em articulação com diferentes departamentos esteve, ao longo de mais de um ano, empenhada na implementação de todos os procedimentos, correcções e ajustes que foi necessário ir fazendo. A Adico tem a sua génese na metalurgia. Sabemos que é uma actividade que nem sempre está conotada com sustentabilidade ambiental mas, temos vindo, a implementar e desenvolver ao longo dos últimos anos, um conjunto de alterações em termos de procedimentos com vista à minimização da nossa pegada ambiental. A certificação ISO 14001 é mais um passo nesse desígnio de sermos uma empresa cada vez mais verde.

Quando é que foi iniciado o processo e quanto tempo foi preciso até submeter o processo para avaliação?

Iniciámos o processo formal em meados de 2022 e obtivémos a certificação em Setembro de 2023. Mais de um ano depois. Este é um processo extremamente complexo e exigente.

Onde foi preciso efetuar as maiores alterações no processo produtivo e como foram percebidas internamente essas mudanças?

Internamente foram muito bem percecionadas, até porque a Adico já tinha em prática a maioria dos mecanismos exigidos pela norma ISO 14001. A implementação da mesma obrigou apenas a pequenos ajustes no modelo de recolha e separação de resíduos já existente. A equipa Adico esteve desde a primeira hora envolvida e empenhada neste processo e quando o mesmo terminou foi para eles um motivo de grande orgulho. Estamos todos sensibilizados para os temas da protecção do meio ambiente e todos nós estamos altamente empenhados, enquanto indivíduos, e enquanto comunidade, sobre o que podemos e devemos fazer para diminuir a nossa pegada. Esta foi mais uma etapa ultrapassada com sucesso e aproveito a oportunidade para agradecer publicamente o esforço feito por esta grande equipa.

A sustentabilidade ambiental não pode, nem deve, ser encarada como uma vantagem económica mas sim como uma questão de responsabilidade social, onde todos nós que somos intervenientes neste ecossistema temos um papel a desempenhar.

Como se pode retirar vantagem económica através desta mudança de comportamento empresarial e que razões levam a que estas decisões tomem tanto tempo até serem decididas?

A sustentabilidade ambiental não pode, nem deve, ser encarada como uma vantagem económica mas sim como uma questão de responsabilidade social, onde todos nós que somos intervenientes neste ecossistema temos um papel a desempenhar. No caso concreto da Adico e da certificação ISO 14001, a decisão foi sendo adiada até sentirmos que internamente estávamos estruturados e reuníamos as condições para podermos conduzir este processo com sucesso.

De que formas a Adico comunica ao mercado e seus clientes este seu novo desempenho ambiental?

Nas nossas diversas plataformas de comunicação que passam nestes tempos pelas diferentes redes sociais, site e em toda a comunicação que fazemos para os nossos parceiros, fornecedores e stakeholders.

Por qual razão assistimos cada vez mais, por parte das indústrias e das empresas industriais, a esta necessidade imperativa de demonstrar práticas mais alinhadas com as preocupações ambientais e o equilíbrio dos recursos naturais?

É cada vez mais uma “obrigação” de todos. Sabemos que a forma como a sociedade moderna está estruturada é extremamente penosa para o equilíbrio do planeta. É fundamental que todos estejamos sensibilizados e conscientes do impacto das nossas ações na sustentabilidade futura. É mais do que uma necessidade. É uma missão. E é fundamental partilhar estes exemplos para que de alguma forma possamos inspirar e motivar outras empresas a fazê-lo. O desafio de preservação do planeta e dos seus recursos deve ser uma preocupação de todos.

Esta qualidade advém não só da matéria-prima utilizada que é duradoura e resistente, mas também pelo design das suas peças que indo ainda beber muito à escola Bauhaus continua a ter na sua base linhas clássicas e intemporais.

Os nossos pais tinham produtos que duravam quase uma vida e subitamente os modelos comprados por nós passaram a resistir menos ao uso e ao desgaste causado pelo tempo. Como é possível adotar e manter uma estratégia de qualidade e durabilidade?

A Adico distingue-se não só pelo design dos seus produtos e pela qualidade, mas também pela durabilidade dos mesmos. Esta qualidade advém não só da matéria-prima utilizada que é duradoura e resistente, mas também pelo design das suas peças que indo ainda beber muito à escola Bauhaus continua a ter na sua base linhas clássicas e intemporais. O toque de modernidade fica quase sempre reservado para os acabamentos. Este conjunto de factores faz a Adico ser hoje a mais antiga fábrica de mobiliário metálico portuguesa e uma das mais antigas da Europa. Temos orgulhosamente quase 103 anos de uma estratégia de sucesso assente na qualidade e durabilidade dos nossos produtos.

Qual é o peso que os designers e as suas competências profissionais têm no vosso negócio?

Imenso. Aliás é o factor mais relevante no sucesso dos nossos produtos e no nosso negócio. É com foco nos designers, sobretudo nos mais jovens que lançamos o prémio Adico cujo mote “Adico desenha o Futuro”, tem como principal objectivo promover a cooperação entre a indústria, a universidade e os jovens profissionais em início de carreira. Além da nossa equipa e design interna, responsável pelo departamento criativo, temos parcerias frequentes com reputados designers nacionais e internacionais para o desenvolvimento de colecções ou produtos de edições limitadas, como foi o caso com o estilista Gio Rodrigues, Luís Laranjeira, António Cayuelas ou Pedro Sottomayor, entre muitos outros.

Com a introdução de novas ferramentas digitais e de novas tecnologias na cadeia de produção, como é que se podem manter pessoas na atividade?

As pessoas serão sempre a chave do processo produtivo e criativo. Efectivamente a área da metalurgia é um sector que sofre de uma grande carência de profissionais sobretudo na área mais técnica. Temos tentado colmatar esta dificuldade com a oferta de melhores condições de trabalho. A automação, a inteligência artificial são hoje factores relevantes e toda a cadeia de valor, sobretudo nas áreas industriais e criativas. Mas encaramos a evolução tecnológica como o desenvolvimento de maquinaria e equipamentos que vêm facilitar o desempenho das nossas tarefas e aumentar a nossa capacidade produtiva, nunca como um substituto das pessoas, até porque estas são sempre necessárias. Elas têm é que se formar em novas competências.

Quais as oportunidades que a Adico vê para o seu futuro?

No mínimo mais 100 anos de oportunidades. Continuar a desenhar e a produzir peças que façam parte do nosso imaginário e memórias. Temos a oportunidade de diversificar a nossa actual oferta com novas colecções, implementar e desenvolver novas parcerias com nomes de referência no sector, continuar a crescer em vendas e em presença no mercado nacional e internacional. O projecto Hamburgo, escritório loja da Adico, que serve como base comercial e logística para 5 países (Alemanha, Áustria, Dinamarca, Polónia e República Checa) é o maior actual desafio para uma empresa que já hoje exporta com carácter regular para cerca de 30 países em todos os continentes. Nestes 100 anos percorremos um longo caminho, mas temos ainda muito por onde continuar a crescer e a consolidar a nossa imagem como empresa de referência no mobiliário metálico português e internacional.

Qual é para si a vossa melhor peça de design?

Todas. Obviamente a Cadeira Portuguesa, a #5008, por ser o ícone maior da Adico e uma referência quotidiana para todos os portugueses, que alcançou já uma representação global, tem um lugar especial no nosso portfólio. Mas temos muitas outras, tanto na linha outdoor, bem como na nossa linha de clássicos, que mantêm presente a memória das peças produzidas pela Adico desde os anos 30/40.

Mais informação em http://www.adico.pt