Milano Home

Para Emanuele Guido, director da Milano Home, e após a realização da segunda edição da feira, entre os das 23 e 26 de Janeiro deste ano, há indicadores que sustentam o seu posicionamento diferenciado, que aposta sobretudo na aproximação entre artesanato, design e inovação por parte de retalhistas de lojas de pequena e média dimensão. Para lá dos novos desafios da economia, salienta que há uma percepção clara da importância do retalho independente e o papel que ele desempenha no fabrico social e urbano das cidades italianas. O caminho é dotar estes pequenos e médios negócios com ferramentas e estratégias que lhes permitam competir num mercado em profundas transformações.

Entrevista de Tiago Krusse
Fotografia: Cortesia da Milano Home

Qual é o objectivo da Milano Home?
A Milano Home pretende ser a plataforma italiana líder para profissionais do sector de casa e decoração, conectando lojistas independentes, fabricantes, pequenas empresas artesanais e profissionais de design. O nosso objectivo é fornecer um espaço onde convergem tendências, habilidade e inovação, oferecendo aos lojistas as ferramentas e a inspiração de que precisam para evoluir num mercado em constante mudança.

Quem é o alvo principal e qual a estratégia, tendo em conta outras feiras que decorrem no início do ano?
Estamos cientes de que a Milano Home pode ser afectada pelo calendário lotado de Janeiro das feiras europeias, no entanto, a Milano Home, mesmo nas suas edições anteriores como a Homi ou a ainda a anterior Macef, sempre beneficiou desta correspondência, que acreditamos ser uma oportunidade. Permite aos retalhistas ter uma visão geral das tendências e novidades já no início do ano e, assim, planear as suas compras no rescaldo da época natalícia que acaba de terminar para todo o seguinte ano. Além disso, o posicionamento da Milano Home é decididamente diferente do de outras feiras do sector: a seleção da Milano Home é muito mais contida e cuidadosa e aposta na qualidade dos expositores que procuramos e seleccionamos ao longo do ano. Dificilmente um lojista encontrará em Paris ou em Frankfurt o que encontra na Milano Home.

Onde é que encontram espaço para crescer enquanto feira?
A Milano Home posicionou-se como um ponto de encontro crucial para a indústria, preenchendo a lacuna entre artesanato, design e inovação no retalho. Continuamos a crescer reforçando o nosso foco em retalhistas independentes, expandindo a nossa rede internacional e enriquecendo a experiência do visitante com eventos personalizados, exposições com curadoria e oportunidades de networking.

Foram cinco os espaços criados para apresentações diárias de temáticas ligadas ao sector, onde profissionais de áreas como o marketing ou o design estiveram em conversa com o público. Uma troca de experiências e de conselhos que decorreram pelos quatro pavilhões: Vibes -pavilhão 1-, Elements -pavilhão 2-, Mood -pavilhão 3- e Taste -pavilhão 4-. No pavilhão 4, Taste, houve ainda espaço para o Brand Power Talks.

Quando foi decidido implementar a Milano Home? Quais os estudos ou pesquisas que foram levados em consideração?
A decisão de lançar a Milano Home resultou de uma análise aprofundada da evolução do panorama retalhista e das necessidades das lojas independentes. Estudos de mercado destacaram uma lacuna na indústria para um evento dedicado que não apresente apenas produtos, mas também ofereça educação, inspiração e oportunidades de negócios adaptadas às necessidades de retalhistas especializados e lojas independentes.

Como é que compara a primeira edição com a deste ano?
A segunda edição da Milano Home aproveitou o sucesso da primeira, expandindo tanto o conteúdo quanto a participação. Este ano tivemos 30% mais expositores, introduzimos novas áreas temáticas, um programa educacional mais rico e uma presença internacional mais ampla, tornando a feira ainda mais relevante para os profissionais do sector.

Por que foi importante suprir a falta de um evento com estas características?
O retalho independente está a passar por uma transformação profunda, enfrentando uma pressão crescente da distribuição em grande escala, do comércio electrónico e da mudança de hábitos de consumo. Muitos dos pequenos retalhistas lutam para se diferenciarem e permanecerem competitivos num mercado em evolução. A Milano Home foi criada para atender a essa necessidade urgente, fornecendo uma plataforma dedicada onde empresas independentes podem aceder a produtos de alta qualidade, interagir com os principais participantes do sector e obter conselhos estratégicos para enfrentar esses desafios. Ao combinar análise de tendências, formação empresarial e seleções de expositores, a Milano Home apoia os retalhistas na redefinição do seu papel e no fortalecimento da sua posição no mercado.

Instalação “Vieni a prendere un caffè da noi” da autoria de Adolfo Carrara, director de arte da Milano Home, projecto que reuniu artistas italianos do sector dos bordados, criando espaço para o envolvimento dos agentes no sector dos bordados, fornecedores de fio e empacotadores.

Qual é a importância do mercado retalhista para a economia italiana?
O retalho independente não é apenas um motor económico – é um pilar fundamental do tecido social e urbano das cidades italianas. Quando uma loja fecha é mais do que um prejuízo comercial, é uma luz que se apaga, um relacionamento que desaparece e uma história que nunca mias se conta. O aumento do turismo excessivo nos centros históricos acelerou este processo, empurrando as empresas independentes em favor de restaurantes, alojamentos de curta duração e lojas emblemáticas globais que têm a mesma aparência em todas as cidades. O resultado? As cidades perdem o seu carácter único, o seu património local desvanece-se e as comunidades tornam-se menos vibrantes e interligadas.
A Milano Home está a trabalhar activamente para neutralizar esse fenómeno. Por meio de sua selecção cuidada de expositores, programas de preparação e discussões estratégicas, o evento fornece aos retalhistas as ferramentas para permanecerem competitivos e relevantes. Uma relação autêntica e construtiva com as marcas, bem como com o consumidor final, está no centro da sua visão, que visa ajudar as pequenas empresas a redefinir o seu papel, fortalecer as suas comunidades e abraçar a inovação, preservando o seu carácter único. Ao promover o diálogo, mostrar o artesanato e apoiar a transformação do retalho, a Milano Home pretende destacar-se não apenas como uma feira comercial, mas também como um movimento para preservar a alma das cidades italianas.

Quais são os grandes desafios que as lojas italianas enfrentam?
As lojas italianas enfrentam múltiplos desafios, incluindo a concorrência da distribuição em grande escala e do comércio electrónico, o aumento dos custos operacionais e a evolução das expectativas dos consumidores. A Milano Home fornece ferramentas e estratégias para ajudá-los a enfrentar esses desafios, com foco na transformação digital, experiência do cliente e diferenciação de produtos.

Há alguns anos, a MACEF desempenhou um papel importante para as empresas artesanais italianas. A Milano Home está colhendo os melhores pontos daquela época?
A Milano Home inspira-se no legado da MACEF mas evolui a sua missão para se alinhar com a dinâmica actual do mercado. Ao mesmo tempo que preservamos o apreço pela excelência artesanal, vamos além de uma feira comercial tradicional, integrando educação empresarial, análise de tendências e um forte ecossistema de networking adaptado a retalhistas independentes.

Nesta segunda edição foi apresentado um manifesto. Como foi produzido este documento e quais foram as principais razões para o fazer?
O Manifesto Milano Home é o resultado de uma jornada de um ano de escuta e diálogo com retalhistas, especialistas do sector e designers. Reconhecemos que as lojas independentes estão a enfrentar transformações profundas e, em vez de oferecer discussões genéricas sobre o futuro do retalho, queríamos fornecer ferramentas concretas e soluções práticas que abordassem os desafios reais que os comerciantes enfrentam.

Através de entrevistas, inquéritos e envolvimento direto com profissionais de toda a Itália e de outros países, a equipa da Milano Home trabalhou incansavelmente para identificar as principais prioridades e alavancas estratégicas que podem apoiar a evolução do retalho independente. O resultado é um manifesto estruturado em torno de cinco princípios fundamentais: identidade, relacionamentos vitais, hipercompetência, conexão e hibridização. Estes conceitos definem uma nova forma de encarar o retalho, onde as lojas não são apenas pontos de venda, mas também centros de conhecimento, comunidade e inovação.

Foi um esforço enorme, que não termina com a apresentação do manifesto. Em vez disso, marca o início de um movimento mais amplo que a Milano Home continuará a desenvolver nos próximos anos. O nosso objectivo é apoiar os retalhistas independentes, traduzindo estes princípios em acções concretas, novas parcerias e iniciativas direcionadas que os ajudem a prosperar num mercado cada vez mais complexo.

Qual estratégia pensada para os expositores estrangeiros?
Para já a Milano Home tem-se concentrado nos agentes do mercado italiano e europeu, que têm sido abordados através da curadoria de uma selecção de marcas internacionais que se alinham com os nossos valores de qualidade, autenticidade e inovação.  Oferecemos oportunidades de negócios personalizadas, sessões de networking e iniciativas promocionais dedicadas para garantir que os expositores estrangeiros possam se conectar com os mercados e compradores, italianos e estrangeiros, que são mais interessantes para eles.

Quais são os objetivos para a edição do próximo ano?
O nosso objetivo para a edição de 2026 é valorizar ainda mais o alcance internacional da feira, expandir as áreas temáticas com novos espaços de curadoria e continuar o nosso investimento na educação e formação. Também pretendemos fortalecer o papel da Milano Home como o evento preferido para retalhistas independentes que procuram produtos exclusivos e estratégias de negócios inovadores.

Emanuele Guido


Formado em 2003 em Administração de Empresas pela Universidade Bocconi de Milão, Emanuele Guido trabalha na Fiera Milano desde Setembro de 2019.

Ex-diretor do Departamento de Marketing Estratégico do Grupo Fiera Milano, chefia a Unidade de Negócios Home, Fashion & Leisure Exhibitions, divisão à qual pertencem as exposições do mundo Living, Fashion, Art & Leisure, organizadas directamente pela Fiera Milano.

Fundador do projecto Milano Home, lidera a mostra desde sua primeira edição, em Janeiro de 2024.

Nas suas experiências profissionais anteriores desempenhou diversas funções de gestão no sector de exposições, em marketing e desenvolvimento internacional, tanto em Itália como no estrangeiro (EUA, China; Índia, Emirados Árabes Unidos).